Não é só coisa de psicólogo!
Será que quando estamos quietos enquanto a outra pessoa nos fala estamos realmente ouvindo? Será que é apenas do psicólogo a função de ouvir e compreender aos outros? Seremos apenas formigas nos trombando no mundo ou indivíduos com empatia?
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"Ah! Você está falando demais! Vai procurar um psicólogo!"
"Você precisa de alguém pra te escutar! Eu lá tenho cara de psicólogo!"
Estas são frases que já ouvi com frequência. Por ser psicóloga e apresentar-me como tal, imediatamente muitas pessoas começam a falar da infinidade de coisas que as atormentam ou pedir para que eu escute um familiar, como se a única pessoa capaz ou com paciência para ouví-la fosse um psicólogo!
Para falar a verdade já ouvi comentários de colegas que omitem que são psicólogos por conta da enxurrada de lamentações que vêm logo a seguir.
Escutar não é coisa só de psicólogo! Todos nós seres humanos, que nos comunicamos precisamos escutar e sermos ouvidos (seja verbalmente e, as vezes, até através de nossos gestos e atitudes).
Cada um de nós, embora utilizando a mesma língua, falamos a partir de um universo íntimo e subjetivo que nos é único. Não é tão óbvio escutar o outro. Às vezes com a correria do dia-a-dia e a superficialidade das relações achamos tudo simples e claro. Quantas vezes não deixamos nem o outro terminar de falar uma frase e já o interrompemos para discordar ou concordar sem ao menos, verdadeiramente, nos disponibilizarmos a ouvir o que ele quer nos dizer com aquelas palavras.
É verdade que o psicólogo tem como uma das ferramentas de seu trabalho, principalmente do trabalho clínico, a escuta, mas esta é permeada por técnicas e recursos complexos. Procuramos este profissional, por exemplo, quando estamos com questões em que não conseguimos resolver sozinhos ou sentindo coisas que não sabemos de onde vem. Mas ser ouvido e ouvir é uma característica própria do ser humano, portanto responsabilidade de todos nós.
Acredito que se as pessoas realmente escutassem umas as outras muitos conflitos seriam evitados, amadureceriam por conhecer mais profundamente o universo íntimo do outro e também cresceriam por descobrir o seu próprio universo. Somos diferentes uns dos outros, mas podemos nos comunicar.
Também é importante o escutar a nós mesmos. O que o meu coração acelerado está me dizendo? O que esta angústia quando estou em tal situação me diz? Porque me vejo e sinto tão incapaz? Estas são algumas das infinitas perguntas que podemos nos fazer. Os sonhos também são expressões simbólicas do nosso mundo interno que nos trazem auto-conhecimento. Ter um caderno e anotar os nossos sonhos com as idéias e sentimentos despertados por eles também é uma forma de nos conhecermos melhor.
É contraditório: vivemos numa época em que a comunicação e a informação cresceram espantosamente e, ao mesmo tempo, ouvimos uns aos outros cada vez menos. Em poucos momentos nos comunicamos de forma aberta, autêntica, acolhedora e reparadora.
Para escutarmos com verdadeira disponibilidade temos que desenvolver a nossa empatia, ou seja, perceber o outro como a nós mesmos, merecendo atenção e generosidade genuínos.
Então! Que tal começar a praticar a escuta hoje mesmo! Com certeza esta prática lhe ajudará a cultivar a amizade, confiança e respeito. Boa escuta!!!